quarta-feira, 25 de abril de 2012

GLADSON CAMELI: "Minha família não vai mais ajudar ao PT financeiramente"

Empresário, engenheiro e filho de uma das famílias mais ricas e influentes do Acre, o deputado federal Gladson Cameli (PP-AC), 34, disse em entrevista exclusiva ao blog que a coligação Frente Popular do Acre, liderada pelo PT, não contará mais com apoio financeiro dos empreiteiros da família.

Veja os melhores trechos da entrevista

Você começou sua trajetória política ligado à Frente Popular do Acre, uma coligação comandada pelo PT, e foi se afastando lentamente. Por que?
Fomos eleitos em 2006 como você mesmo falou, com a Frente Popular. O PP era coligado com a FPA. Os quatro anos de meu primeiro mandato apoiei a frente em todas as ações que eu podia para conseguir benefícios para o Estado do Acre, como emendas, projetos etc.

O que aconteceu de tão marcante para que você e o PP se afastassem da Frente Popular?
Eu comecei a observar que a sigla FPA só existe em época de eleições, para os interesses do PT. Depois do meu primeiro mandato, mesmo eu trabalhando nas eleições, pedindo votos para a FPA, eles estavam trabalhando por trás para derrubar minha eleição. Mas o que eu considero como fator primordial para a minha saída da FPA foi a busca de uma independência partidária. Fui eleito pelo Partido Progressista com quase 33 mil votos. Essa votação me deu a responsabilidade de mostrar ao povo do Acre que eu havia sido eleito para defender os interesses do Estado, e não de um grupo político.

O que aconteceu para que o PT, depois de governar o Estado por quase 14 anos, esteja perdendo seu poder, a exemplo da derrota nas últimas eleições, em Rio Branco? Tem explicação para o revés eleitoral?
Primeiro, a autoconfiança exagerada, com o espírito de “já ganhou”. Segundo, que a democracia exige uma alternância de poder e o povo cobra isso, mais dia menos dia. E, terceiro, que os partidos que têm condições de progredir, como no caso do PP, e se sentem tolhidos numa aliança do tipo que tínhamos, saem para procurar o crescimento da sigla e de seus afiliados.

O Vale do Juruá é, inegavelmente, um pêndulo para o resultado de eleições no Estado. Sua família é daquela região e tem ligações políticas com o governo da Frente Popular. Isso vai continuar?
Primeiro, que ligação política não tem. A ligação que alguns membros de minha família têm com o governo estadual é estritamente empresarial, através de vitórias em licitações de obras que já estão sendo concluídas.

Você diz que não há ligações políticas, mas o César Messias, vice-governador, é seu primo. O ex-governador Orleir Cameli, dono da construtora Colorado, é seu tio. Seu pai, Eládio Cameli, é dono da ETAM. Ambos são empreiteiros e mantém negócios com o governo do Acre. Como fica então a situação?
O vice-governador fazia parte do PP e quando nós, partido, decidimos tomar o nosso rumo, ele [César Messias] achou por bem mudar de partido e continuar fazendo parte da Frente Popular. Isso demonstra claramente o rompimento do PP com a Frente Popular, da qual não fazemos mais parte em nada. E digo mais: nem na administração estadual nem na administração municipal.

Mas as empresas da sua família colaboram com as campanhas da Frente Popular, não?
Ficaria melhor no termo passado. Colaboravam. A última campanha, quando ainda estávamos coligados, foi em 2010. Então o termo correto, agora, é colaboravam.

Você me contou que, se dependesse de seu pai, você não estaria na política. É isso mesmo?
Sim, Altino. Meu pai conseguiu construir uma empresa que é reconhecida como uma das maiores da Região Norte, sendo genuinamente nascida na região. Como qualquer pai que constrói uma estrutura empresarial, o meu também gostaria que eu me dedicasse à empresa como meus dois outros irmãos o fazem. Somos dois engenheiros civis e um administrador de empresa. Mas eu acredito que Deus nos dá um destino para cumprirmos uma missão. Faço política porque gosto e acredito que seja um dom, porque a gente só faz uma coisa bem feita quando faz porque gosta.

Você acha que o governo do PT perdeu o foco, está desorientado? Que avaliação você faz?
Ninguém ganha uma eleição sozinho. Esse tratamento que a frente dispensa aos partidos aliados está cansando. Eles teriam que ouvir mais os parceiros e compor. O desgaste natural já está pelo tempo de poder, o povo está cansado dessa prática política que ai está, da mesmice. O povo está querendo mudança.

Muito se fala que a oposição não tem um projeto para governar o Estado. Você acha que a oposição está preparada para assumir o poder?
Acredito, até porque passei cinco anos na Frente Popular e nunca vi esse projeto de governo. Que projeto era esse? Só ganhar eleição? Noventa por cento do governo ser do PT? Vamos analisar esse governo aí. Existe muita gente qualificada dos outros partidos para assumirem as Secretárias de Estado. Isso acontece? Então temos que ter a consciência de que se a oposição assumir o governo, terá uma responsabilidade muito grande nas mãos, que é mostrar ao povo que governar é compor, é somar.

Publicado por ALTINO MACHADO às 09:42

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