O presidente da República em exercício, Michel Temer, ao lado do terceiro-sargento Márcio Alexandre Alves, que está sendo promovido por ato de bravura no Salão Nobre do quartel-general da PM, no centro do Rio de Janeiro. Os três PMs que entraram na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, durante o ataque de um atirador da última quinta-feira, que matou 12 estudantes, evitaram que mais mortes ocorressem.
Emocionado a ponto de ter que interromper a entrevista para secar as lágrimas, o agora segundo sargento da Polícia Militar Márcio Alexandre Alves lembrou das vítimas do massacre em Realengo na manhã desta terça-feira (12), após a cerimônia de sua promoção na corporação. "Preferia não estar recebendo essa homenagem e ter aquelas crianças todas aqui conosco", declarou.
Alves foi o primeiro policial a chegar na escola municipal Tasso da Silveira, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ele desferiu um tiro de fuzil no atirador Wellington Menezes de Oliveira e impediu que a tragédia fosse ainda maior. Doze crianças foram executadas no ataque e algumas ainda continuam hospitalizadas em estado grave.
Além de Alves, os outros dois policiais que participaram da ação na escola também foram promovidos. Os cabos Denilson Francisco de Paula e Edinei Feliciano da Silva ascenderam ao posto de terceiro sargento. No dia do ataque, a alguns quarteirões da escola, eles foram abordados por um aluno ferido pedindo socorro e seguiram para o local.
"O dia 7 de abril não pode entrar na história como um dia de fúria, mas um marco contra a violência", discursou o comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte. Ele fez questão de dissociar a atrocidade cometida em Realengo da religião islâmica. O comandante-geral citou, inclusive, uma passagem do Corão, livro sagrado do Islã: "As crianças são o ornamento da vida neste mundo".
Sargento herói não atirava há sete anos
Dos 18 anos que está na Polícia Militar, o sargento passou 15 deles no Batalhão de Polícia Rodoviária. Ele também já passou pelo Batalhão de Choque e pelo 23º Batalhão de Polícia Militar e chegou a ser baleado anos atrás numa ação na favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio. Mas, segundo Alves, faz quase sete anos que usou arma de fogo durante uma ação, embora lembre do treinamento de tiro do curso de formação.
"O trabalho continua normal. Vou continuar me dedicando 100% na profissão", promete ele, que se diz um apaixonado por seu ofício.
Alves é pai de um menino de 12 anos e uma menina de quatro. O PM conta que no dia do massacre seu filho reconheceu sua voz pela televisão, mas eles só puderam se falar à noite.
O sargento herói ainda guarda os acontecimentos daquela fatídica quinta-feira frescos na memória. "Toda hora vem na mente aquele flash das crianças, do atirador vindo na minha direção", revela. Apesar do reconhecimento popular, Alves não se considera mais herói do que todos os demais companheiros de corporação.
Denilson Francisco de Paula, que também participou da ação na escola Tasso da Silveira, se diz feliz e triste ao mesmo tempo. A sensação de dever cumprido no episódio terá sempre que dividir espaço com a lembrança das vítimas da tragédia.
Temer comparece
O presidente em exercício, Michel Temer disse que veio ao Rio "com dor no coração" e ainda comovido com o fato que "abalou a consciência de todos os brasileiros". A presidente Dilma Rousseff está em viagem oficial à China.
Temer afirmou que o ocorrido de Realengo "traz à luz uma violência oculta", distinta da criminalidade comum que costuma preencher o noticiário policial. "Foi um ato tresloucado de alguém que teve a mente envenenada e cometeu um desatino", afirmou.
Temer não falou sobre o desarmamento. Ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que vai antecipar a campanha de desarmamento, que começaria em junho, para 6 de maio deste ano.
Entenda o caso
Na quinta-feira (7), por volta de 8h30, Oliveira entrou na escola Tasso da Silveira dizendo que iria apresentar uma palestra. Já na sala de aula, o jovem sacou a arma e começou a atirar nos estudantes.
O atirador deixou uma carta com teor religioso, onde orientava como queria ser enterrado e deixava sua casa para associação de proteção de animais.
O ataque, sem precedentes na história do Brasil, foi interrompido após um sargento da polícia, avisado por um estudante que conseguiu fugir da escola, balear Oliveira no abdômen. De acordo com a polícia, o atirador se suicidou com um tiro na cabeça após ser atingido. Oliveira portava duas armas e um cinturão com muita munição.
Na sexta (8), 11 vítimas foram sepultadas nos cemitérios da Saudade, Murundu e Santa Cruz. Já no sábado pela manhã, o corpo de Ana Carolina Pacheco da Silva, 13, o último a deixar o IML (Instituto Médico Legal), foi cremado no crematório do Carmo, no centro do Rio.
Fonte: UOL